Tenho alguma propensão para a nostalgia quando estou sozinho. Acho sempre, por um motivo ou por outro, que as pessoas me abandonaram sem que eu tivesse feito nada que mereça tal punição. Suspiro e reviro os olhos, sempre sem perceber o porquê do vazio e da solidão. Sei que a minha própria companhia é boa, mas fico impaciente. Abro um livro, deixo. Ouço música de olhos fechados. Rabisco e pouso a caneta na mesa, largada na mesma solidão em que me encontro. Desaprendi a estar só e a aprendizagem tem sido dolorosa por ter de enfrentar vozes que nunca deixei de ter como um eco dentro de mim. Esta minha nostalgia prende-me a uma tristeza tão portuguesa, e ao mesmo tempo tão minha que me sinto o porta-bandeira de todo um sentimento triste que vem não se sabe de onde e vai pelo desconhecido fora até chegar ao âmago do interior. E ali, despido de qualquer manta protetora, sou obrigado a ouvir o eco de tudo o que não quis reviver e preferi apagar. Há anos inteiros da minha vida que não lembro. Por memória seletiva, por defesa ou apenas por medo. E todos os outros vivi intensamente e de modo rápido. Uns melhores, outros piores, mas todos vividos de um modo tão enérgico que cheguei a esta idade, seco. Não me resta nem mais pinga de força para arriscar ou mudar demasiado o que já tanto mudou. Esta nostalgia medonha deixou de me envergonhar há muito e hoje abraço-a sabendo que me acompanhará todo o tempo que eu durar. Faz parte de mim e ela sou eu também. Somos um, e unidos ficamos quando sozinho me sento em mais um serão, frente ao computador, livro aberto ou com aquela série que eu tanto gosto de ver. Não mais tento me livrar dela nem combate-la. É assim porque é assim que tem de ser. Existem pessoas mal vividas com todas as condições para Viver bem; existem pessoas mal vividas que não sabem o que é sentir Amor, Amizade, Raiva, Injustiça, Felicidade, Ansiedade, e todas as coisas boas e más que temos de experienciar nesta longa viagem até ao Nada. Um dia tudo termina de forma abrupta, mesmo que seja de forma programada ou esperada, e vai restar a memória do que fomos e do que fizemos. Uns deixarão legado, outros deixarão saudade, e a maioria deixa descendência ou nem isso. E o pó que cobre os sentimentos começa bem cedo. É por isso que gosto desta nostalgia de olhar para o passado, sentir a dor moer devagar e com grande profundidade. Aqueles anos que passaram não vão voltar e eu estou melhor do que alguma vez estive. Recomendo-me…e é bom escrever isso para me ouvir dizê-lo de dentro para fora, como um grito alegre que abafa todos os outros sons.
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