Ensaio sobre uma maldição

Sinto uma vergonha enorme da classe política. É inegável. Mas não é só essa classe que me deixa à beira de um autêntico ataque de vómito. Os jornalistas, com a sua clara falta de vontade de aprofundar os assuntos e o poder judiciário conivente com a corrupção e a falta de vergonha dos dirigentes políticos, despertam em mim o mesmo enjoo. É tão intenso esse enjoo que por vezes sinto incurável e sem retorno. Perco a esperança e apetece-me fugir de um país sempre à mercê dos novos piratas e bandidos do século XXI: os políticos. Ás vezes, muito raramente, lá vem um jornalista com um trabalho de investigação digno e uma matéria interessante. Normalmente a ousadia fica-se pela denúncia e a confrontação dos factos com as pessoas envolvidas é uma desilusão… Ontem li que um director de serviço de um hospital “requisitou” serviços de triagem a uma empresa privada de saúde da qual ele é proprietário. É algo comum e normal. Nada como denunciar a história sem perguntar a esse médico, clara e inequivocamente: “Acha honesto requisitar com dinheiro de todos os portugueses a sua empresa privada para fazer o que o senhor devia fazer nas suas horas de serviço pagas às custas de todos? Acha sério? Acha que é tolerável e de gente digna essa decisão?” Eu adorava ver como ele responderia! Nada como fazer este tipo de perguntas que tocam imediatamente na honra e dignidade. Sim, eles roubam mas não suportam a ideia de serem desonestos e uns gananciosos nojentos que tentam aproveitar-se com a chico-espertice típica dos acéfalos! Ordinários sem lei nem ordem. Sebentos. Cheiram a euros e a nobreza barata. Normalmente casam-se com gente da mesma laia reles e banal. A mulher deste médico juntou-se à festa e, dado que o marido é oftalmologista, abriu uma rede de ópticas. Lojas essas sempre ao lado da clínica oftalmológica onde os utentes do SNS vão reencaminhados para triagem. Que conveniente! Tudo legal. Tudo a favor do SNS e dos utentes. Tudo pelas pessoas, diz o médico. Pois que o diga e repita milhões de vezes. Que se convença na solidão das palavras repetidas e das frases ecoadas pelos seus ouvidos. Para mim é mais que certo o que se passa naquele hospital, naquele serviço e naquelas vidas. Eu não o vou julgar porque não me compete e não vou jogar a decisão de condenar esta gente nas mãos de uma entidade superior que não conheço nem reconheço. A Vida é a minha única esperança. A Vida que conduz esta gente gorda nas vistas e grossa no andar, não pode esquecer de penalizar quem tanto mal espalha pela vida de todos. Pela vida de todos pois todos somos lesados nestas pequenas histórias. Todos pagaremos o que estes burgueses de pele rota e roupas caras andam a fazer. A Vida terá de nos dar, de uma maneira ou de outra, a satisfação de os ver a cheirar a alho e a arrotar a caviar. De os vermos com pernas tortas e carros caros. De os vermos comer notas e moedas mas com fome de afecto, amor e solidariedade. Não é que eu precise de vingança ou tenha qualquer ódio a estes parasitas de cerebelo inexistente e cérebro do tamanho de uma graínha. Não. Não os odeio nem penso mais do que devia para aprender com estas histórias. Deles não quero nada. Nem a glória que julgam ter, nem o dinheiro, nem o sorriso que possam trazer estampado no rosto. Menos ainda a esperteza. Deles quero distância e, se possível for, esquecer que existem com tal veemência que desapareçam. Xô. Saiam demónios. Ide lá para o quinto dos infernos. Para o confim do mundo e deixem-me na paz do dia e a viver sossegado… Façam-me só um favor: não propaguem esses genes. Façam de tudo para não alastrar toda essa podridão de valores a uma descendência. Ninguém merece tamanha maldição. Nem nós, pecadores…

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